SUSANA
ROCHA

A HOUSE FOR NO ONE
Exposição colectiva | DUPLEX, Novembro 2024


Tap, 2024
Tubos de ferro, casquilhos de latão, luvas de latex e cabelo humano.
110x160x15 cm

Tap, 2023
Tubos de ferro, casquilhos de latão e cabelo humano.
100x24x15 cm
Há uma infiltração no teto, alguns canos expostos, telhados de vidro e espaços assombrados...
De algum modo, isto é uma casa.
Há algum tempo atrás, pensava numa canção infantil de Vinicius de Moraes sobre uma casa engraçada - não tinha teto/não tinha nada, não se podia dormir em redes porque a casa não tinha paredes – porém com o avançar da melodia também se explica que a sua construção foi feita com muito esmero, na rua dos tontos, no número zero*.
Quase todas as crianças em Portugal aprendem esta canção desde muito cedo... Como se a miséria fosse um conceito curioso ou difícil de compreender quando ouvido de uma criança que canta. É uma música um tanto sinistra... mas com uma verdade inabalável... Casa e lar são dois conceitos diferentes, embora se sobreponham. Se a primeira nasceu da necessidade de abrigo estrutural e de proteção primordial, a segunda dá-se por uma necessidade emocional – e, nesta equação, tem definitivamente um valor superior.
No centro desta exposição estão colaborações que se tornam amizades e amizades que se estenderam em colaborações. Foi construída uma casa, mas também um lar. Não é por acaso que as obras apresentadas são de artistas com histórias de realidades desenraizadas, de maternidade e de um fazer com as mãos. Esta é uma casa para ninguém... mas, pode adivinhar-se que, é também algo mais.
Estes espaços nucleares - estas casas, estes lares - estão no centro do nosso crescimento e parecem ressoar dentro de nós antes e depois decrescermos... Construímos novas casas, com o que foi impresso em nós e com o que encontramos pelo caminho. Colecionamos janelas, como espaços de respiração; mantemos os nossos sótãos tão organizados quanto podemos - se pudermos; pensamos em canos como veias que
permeiam o espaço.
Poderíamos também refletir sobre a nossa macro casa, num mundo que é cada vez mais assustador. Poderíamos pensar na cidade, na sua arquitetura e nos estendais suspensos... nos ocupantes de cada casa, nas suas histórias e superstições que passam de geração em geração.
Mas por hoje, talvez seja suficiente apenas brincar entre as luzes e as sombras de um espaço expositivo.